MEMORIAL LAGOA DO 33

Antes de se tornar povoado, lá pelos idos de 1955, o hoje próspero Distrito de Lagoa do 33, no mapa de Jacobina, era apenas uma fazenda que se chamava “Serra Batista” ali morava o Sr João Ferreira que cotidianamente saía montado em jegue com quatro corotes para buscar água no povoado do Jacaré distante cerca de 30 km de sua fazenda. Certa feita foi à caça de uns caititus com seu cachorro que, ao acuar os animais, adentrou o mato e não mais retornou. Naquele dia Ferreira voltou para casa triste, pois havia deixado na mata o seu fiel amigo. Quando a noite caiu, para a alegria de João Ferreira, o cachorro retornou e trouxe nas patas marcas de lama. Como até então ele não sabia da existência de água nos arredores, no outro dia, resolveu investigar onde o cachorro havia encontrado aquela lama. Seguiu as pegadas deixadas pelo cão e foi abrindo caminho até encontrar uma grande lagoa. João voltou muito alegre por ter descoberto água tão perto de sua casa. Naquela mesma noite eis que chega um boiadeiro com trinta e três cabeças de gado e pediu-lhe hospedagem e arrancho para o gado na fazenda. No pasto havia muitos pés de angico. João e o boiadeiro, não sabendo que a folha daquela árvore quando quebrada torna-se tóxica, passaram a cortá-la com o facão dando à boiada e em seguida levaram o gado até a lagoa para que matasse a sede. Ainda na lagoa morreram as trinta e três cabeças de gado. João Ferreira testemunhando toda cena disse: “A partir de hoje este lugar vai se chamar Lagoa do 33”. O fato sobre a morte do gado e a descoberta da lagoa se espalhou e começou então o povoamento dos primeiros habitantes, Celino Barbosa e Pedro Oliveira oriundos da Comunidade de Gruna foram abrindo variantes com facão e começaram a criar cabras em terreno verdadeiro.
  Um dos primeiros moradores - Celino Barbosa
 
Primeiros moradores - Família Oliveira 
Aos poucos diversas outras famílias também foram chegando formando um pequeno povoado. Apesar da Lagoa, naquele lugar havia muita escassez de água, então os representantes Alvino Oliveira, Celino Barbosa e Hildebrando Gualberto, conseguiram no dia 16 de novembro de 1968, junto ao governo estadual, perfurar o primeiro poço artesiano do povoado de Lagoa 33, e comemoraram realizando uma grande festa. 

16/11/1968 - Água jorra de um poço artesiano pela primeira vez em Lagoa do 33
Comemoração pela perfuração do primeiro poço artesiano de Lagoa do 33
A primeira Igreja evangélica foi a Assembléia de Deus, fundada pelo Sr. João Gomes Ferreira. Em seguida a Igreja Católica fundada pelo padre Alfredo de Jacobina.
A comunidade desde os primórdios da sua história se desenvolveu bastante. Atualmente dispõe de várias denominações evangélicas, supermercados, açougues, padarias, restaurantes, bares, clubes, associações comunitárias, escolas, feira livre, Unidade de Saúde da Família, Delegacia e Infocentros.                          
 Comunidade e lideranças discutem a elevação de povoado a Distrito
Em 22 de dezembro de 2007, o Sr. Alderaci Ferreira (Derinho) juntamente com o Senhor Neitom Oliveira, empresários e lideranças políticas convocaram uma primeira reunião com os moradores para discutirem a elevação do povoado à categoria de Distrito.

Antonio Araújo em seu terceiro mandato como prefeito sancionou a Lei nº 132 de 03 de abril de 2008 que cria o Distrito de Lagoa do 33
Já em 10 de Março de 2008, ocorreu a segunda reunião onde o Prefeito Antonio Araújo em seu segundo mandato apoiou a proposta e criou o projeto de Lei encaminhando à Câmara de Vereadores para aprovação legislativa na presidência do Senhor Lialdino Barbosa para a realização de um sonho que começara em 1989. O projeto foi aprovado por oito votos contra um. Araújo sancionou a lei nº 132 de 03 de abril de 2008 que criava o Distrito de Lagoa 33. Era apenas uma das tantas conquistas que virão e que merecem os lagoenses.
Com o advento da realização do censo 2010 a Superintendência de Estudos Econômicos e Sociais da Bahia (Sei) e o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), numa interpretação desrespeitosa à Lei Estadual n. 5.017, que cria o Município de Ourolândia, publicada no Diário Oficial do Estado (D.O.E) em 14 de junho de 1989, alteraram  os limites territoriais na divisa entre os municípios de Morro do Chapéu e Ourolândia, sem dar nenhuma explicação aos seus habitantes ou ainda aos poderes municipais constituídos de ambas as cidades, transferindo o território do Distrito de Lagoa do 33 para o município de Morro do Chapéu, que de acordo com o texto da Lei e os censos realizados pelo próprio IBGE, sempre pertenceu ao município de Ourolândia mesmo quando este ainda pertencia ao Município de Jacobina que tem mais de 130 anos de existência.


Área vermelha no mapa, território de Ourolândia que estava sendo transferido para Morro do Chapéu
O deputado Estadual Paulo Câmara, membro de uma Comissão Estadual de Divisão Territorial participou de uma das sessões da Câmara de Vereadores de Morro do Chapéu que tratou do assunto.Após meses de sofrimento, angústia e muita ansiedade a Superintendência de Estudos Econômicos e Sociais da Bahia (Sei), em reunião realizada na sede do Órgão em 16 de novembro de 2010, onde participaram diversas autoridades do Município de Ourolândia juntamente com diretores do Órgão, reconheceu o equívoco cometido pelos seus técnicos e reintegrou na sua forma original os limites territoriais do município de Ourolândia com Morro do Chapéu.



Autoridades de Morro do Chapéu e Ourolândia realizam audiência pública em Lagoa do 33 
Com esta decisão o distrito de Lagoa do 33, que a partir de 2007 havia sido considerado pela Sei como sendo pertencente ao Município de Morro do Chapéu, é reintegrado ao território do Município de Ourolândia como foi desde os primórdios da sua história. O povo de Lagoa do 33 bem como todo município de Ourolândia comemorou a decisão.



Comissão formada por políticos e representantes da sociedade cívil se reuniram na sede da SEI


Depois que a Superintendência de Estudos Sociais e Econômicos da Bahia (Sei) regularizou a situação territorial do Distrito de Lagoa do 33, a luta do Poder Executivo de Ourolândia agora é tentar reverter a situação junto ao Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
De acordo com o censo realizado recentemente, a população do Distrito é de 3.921 habitantes (sem a imputação, critério que o IBGE utiliza para considerar três habitantes para cada residência fechada), mas foi somada ao quantitativo populacional de Morro do Chapéu, já que até o início desta semana a Sei considerava o distrito como sendo pertencente a aquele Município e é preciso que se reverta isso para o município de Ourolândia.

Segundo o deputado Estadual Paulo Câmara, que se manteve solidário e defendeu os interesses de Lagoa do 33 na Assembléia Legislativa durante toda negociação, ele e António Araújo deverão participar de uma reunião nesta sexta-feira, 19, em Salvador na sede do IBGE visando resolver o impasse. Araújo lembra que apesar de toda sensibilidade do diretor estadual do IBGE Dr. Artur Ferreira, ainda depende de uma decisão da direção nacional do Órgão, sediada no Rio de Janeiro.
Para o município de Ourolândia o censo verificou um quantitativo populacional de 13.091 habitantes. É bom lembrar que nestes números ainda não constam os 3.921 habitantes de Lagoa do 33 e a imputação que, segundo a coordenadora regional Marília Sturaro, deverão ser contabilizados nos próximos dias.
Outra novidade é que o município, por conta dos novos limites estabelecidos pela Sei, parte do povoado de São Bento ficou para Várzea Nova e com isso Ourolândia perdeu 120 habitantes.
Edição e texto de José Carlos Benigno
Reportagem de Alderaci da Silva Ferreira (Derinho)
Fotos de Maria da Penha Pereira
Colaboradores: Juveno e Maria de Vino